segunda-feira, 19 de abril de 2010

César Borges: "Nunca houve acordo fechado com Wagner"

Ex-governador da Bahia e senador candidato à reeleição em outubro, César Borges – um ex-carlista que se aliou ao governo do presidente Lula – foi o protagonista do episódio que chacoalhou a cena política baiana nesta fase de pré-campanha eleitoral. Depois de um tumultuado namoro e noivado com o PT do governador Jaques Wagner, Borges acabou casando com o PMDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima – adversário do petista na disputa pelo governo do Estado. A relação com o PT naufragou, segundo Borges, porque Wagner não assumiu a coordenação política na definição das coligações proporcionais. Delegou a tarefa aos dirigentes partidários.

Depois de muita conversa com o governador Wagner, o senhor deu uma guinada nos rumos e decidiu fechar aliança com o PMDB. O que aconteceu?
Primeiro quero que fique claro que eu vinha conversando com as forças políticas e os pré-candidatos, mas que passava por uma definição do meu partido em nível nacional. Quando o PR decidiu apoiar Dilma (Rousseff, candidata do PT à Presidência) ficamos com duas possibilidades: o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), com quem vinha conversando e com quem nunca deixei de conversar, e o governador Jaques Wagner (PT). Como nós estamos vivendo um novo momento político eu não me furtei a conversar com o governador. Uma conversa de alto nível, que existiu no início, no meio e no fim. E espero que se mantenha assim. Não é porque sou noivo hoje, desejado, e amanhã, na hora que o casamento não se concretizou, o noivo se transforme num ogro, num Shrek (Nota da redação: herói do cinema animado, cuja aparência é grotesca, disforme e verde).

Mas o que aconteceu para o acordo com o PT não sair?
Basicamente eu não poderia, como dirigente partidário que sou, fazer uma coligação que não contemplasse os deputados federais e estaduais. Até porque tinha esse compromisso com a direção nacional do partido. Então não poderia ter anunciado que havia um acordo fechado, que eu tinha abandonado os deputados. Nunca houve acordo fechado.

Mas o governador Jaques Wagner chegou a declarar a A TARDE que o acordo estava concluído.
Isso foi interpretação dele. Eu sempre disse que só poderia estar fechado nas duas coisas (majoritária e proporcionais). É mais ou menos um casamento em que você não pode casar só com o rosto sem levar o restante. E tem um ponto também a ressaltar: o PT estava dividido. Lamentavelmente algumas pessoas do PT não entenderam o acordo, foram sectários mesmos, inclusive comemoraram posteriormente. Isso não dava segurança, não me deixava confortável do ponto de vista político enfrentar uma campanha se tem um partido que metade me queria e metade não me queria.

O governador disse que o queria na chapa dele. O senhor acha que faltou atuação mais direta do governador nesta questão das proporcionais?
Que o governador queria, eu não tenho dúvidas, até porque ele próprio declarou que ficou triste porque a negociação não foi fechada. Agora, quem comanda estas negociações, a meu ver, é o governador. Eu diria que é indelegável essa coordenação política, porque se você entrega a presidente de partido cada um vai defender o seu partido. O governador me dizia: acho que para federal nós vamos fechar uma chapa única. E não era chapa com o PSB e com o PCdoB, era com o PT. Eu queria que fosse com o partido majoritário, o partido do governador. O Jonas Paulo (presidente estadual do PT) colocava que haveria para federal duas ou três chapas, e não dizia qual era a posição do PR. Precisava a liderança maior tomar uma postura, coisa que não foi tomada, apesar de diversas mensagens que eu procurei dar neste sentido. Eu conversei, por exemplo, com a ministra Dilma, com Cândido Vaccarezza (líder do governo na Câmara), conversei com Walter Pinheiro e Nelson Pelegrino, mas havia essa dificuldade. Ficou intransponível. E como já estava muito maduro o assunto, eu tinha que tomar uma decisão.

E o acordo com Geddel?
Eu acredito no projeto de Geddel Vieira Lima. Que isso fique bem claro. Acho Geddel um político preparado, cheio de gás, determinação, garra. Ele realizou um trabalho belíssimo no Ministério da Integração Nacional, e quem está dizendo não é César Borges, é o presidente Lula que falou várias vazes que ele era um dos melhores ministros do governo. Essa garra, essa determinação a Bahia precisa para resolver os grandes problemas que temos na área da saúde, educação e segurança pública.

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