quarta-feira, 30 de junho de 2010

A importância do dia 02 de julho para a Bahia e o Brasil

O Brasil pouco sabe sobre o '2 de Julho' e bem que deveria saber. O que aconteceu na Bahia no dia 2 de Julho de 1823 foi decisivo para todos os brasileiros.



Foi quando o Exército Libertador, tendo à frente o Batalhão do Imperador entrou finalmente na cidade que havia sido sitiada durante meses, sendo recebido com flores e homenagens pela população. Os portugueses, cerca de 4.500 homens, haviam abandonado a cidade poucas horas antes, por mar.


Durante muitas décadas firmou-se o entendimento errôneo de que a data representava a 'Independência da Bahia'. Ledo engano. O correto é celebrar a Independência do Brasil na Bahia. Existe neste momento uma proposta em andamento no Congresso Nacional (de autoria da Deputada Alice Portugal, PCdoB-Ba) para a aprovação do '2 de Julho' como data nacional. Nada mais justo!


Basta lembrar que o exército dessa guerra, cerca de 10.000 homens, era composto por soldados vindos de muitas províncias - do Ceará e de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Sergipe, mas também fluminenses, mineiros e paulistas, além dos baianos, é claro, muitos deles filhos da África.


Na verdade, trata-se do nascimento do Exército brasileiro - um fato também pouco celebrado - e do batismo de fogo do seu patrono, o futuro Duque de Caxias.


A cena do 7 de setembro só adquire sua plenitude de sentido com a bravura popular que foi demonstrada na Bahia. Um exército inicialmente comandado por um francês, Labatut, mas que chega ao final do conflito sob as ordens de um brasileiro, Lima e Silva.


O '2 de Julho' é um novelo de narrativas. No plano de fundo, a "narrativa histórica", ou seja, os eventos memoráveis da entrada do Exército Libertador em Salvador no dia 2 de Julho de 1823, que por sua vez se inserem no processo mais amplo da guerra propriamente dita e de seus antecedentes.


Em torno desse núcleo vão se enovelando 185 anos de festividades de rememoração e de interação criativa com esses eventos originais e seus símbolos. E aí entra em cena uma outra dimensão da festa, a rica apropriação que dela fez o povo da Bahia, construindo uma espécie de civismo caboclo.


Fôssemos mais próximos de Hollywood e já teríamos inúmeros filmes projetando mundialmente a temática. Onde encontrar episódios mais marcantes? Uma mártir religiosa (Joana Angélica), batalhões voluntários, escravos lutando por liberdade, uma sertaneja que vira soldado, batalhas navais e campais...


Essa sertaneja que vira soldado - a ilustre Maria Quitéria de Jesus - está a pedir urgente uma mini-série nacional. Uma mulher, entre 25 e 30 anos que viaja cerca de oitenta quilômetros para se alistar, vestida com as roupas do cunhado, de quem se apropria do nome, passando a ser chamada de soldado Medeiros. Aparentemente casa durante o conflito e o marido morre.


Recebe menção explícita de bravura do General Lima e Silva e após a guerra vai ao Rio de Janeiro para ser condecorada por D. Pedro I. Lá no Rio chama a atenção da historiadora Maria Graham, amiga de Leopoldina, que a descreve como uma mulher feminina, sem nada "que desabone sua moral". Sabemos também através desta autora que Maria Quitéria se alimentava de forma comedida, ovos e peixe, e que também enrolava um cigarro de palha após as refeições. Vai ser um sucesso a mini-série!

O principal foco de resistência à proclamação da independência no Brasil concentrou-se na Bahia, onde o Governador das Armas, general Madeira de Mello, dispunha de consideráveis forças de terra e mar.


Contra tal poder, levantaram-se os patriotas baianos. A reação, aos poucos, se organizou, alastrando-se por toda a província. Em pouco tempo, os portugueses estavam praticamente confinados a Salvador e seus arredores, mesmo possuindo a superioridade no mar.


O resultado do conflito dependia do domínio da Baía de Todos os Santos e do conseqüente controle do abastecimento e das comunicações entre as vilas confederadas. Os compatriotas perceberam que os sucessos no mar demandavam forças ofensivas.

Em tal contexto, surgiu a Flotilha Itaparicana, assim chamada pelos seus contemporâneos. Foi escolhido para o seu comando, o Segundo-Tenente da Armada Nacional e Imperial João Francisco de Oliveira Botas, conhecido como João das Botas, que recebeu ordem de seguir para a base em Itaparica, onde deveria armar barcos com canhões nas proas e popas.


Nascido entre 1776 e 1778, João das Botas era português de nascimento. Começou sua carreira como Contra-Mestre do cais do Arsenal de Marinha, em 1809. Seis anos depois, começou a desempenhar o cargo de Ajudante de Patrão-Mor do citado Arsenal, cargo que lhe foi dado devido ao seu conhecimento e a sua inteligência.


A partir de 1817, o movimento de emancipação se acentua e João das Botas participa e conspira para depor a Junta Provisória que governava a Bahia, resultando numa tentativa frustrada. Em função deste episódio, João das Botas foi preso e deportado para Lisboa. Anistiado, regressa à Bahia em 1822.


Durante as lutas da Independência, recebeu o comando da flotilha de Itaparica, que começou improvisada e foi aumentando ao longo da campanha, alcançando um efetivo de quase 800 homens. A flotilha era composta apenas de canhoneiras e saveiros, provenientes das cidades do recôncavo baiano, que tinha como base a Ilha de Itaparica.


Quando Madeira de Mello, cercado por terra e pressionado no mar por Cochrane (primeiro almirante da Marinha Imperial Brasileira) e por João das Botas, abandonou o Brasil rumo a Portugal, a caça aos navios lusos foi iniciada, ainda em águas da Bahia de Todos os Santos, pela Flotilha Itaparicana.


Sua bravura e batalhas conquistadas durante as lutas contra a esquadra portuguesa, na Baía de Todos os Santos, que culminaram com o 2 de Julho, o elevaram a herói da Independência da Bahia.

Personagens

Caboclo e Cabocla:

Estas figuras simbólicas foram criadas para homenagear os batalhões e os heróis de 1823 que, pela bravura e coragem, lutaram pela liberdade do Brasil. A história conta que o povo resolveu fazer sua própria comemoração e, em 1826, levou uma escultura de um índio para representar as tropas, já que não poderia ser um homem branco, porque lembrava os portugueses, nem os negros que, na época, não eram valorizados. Vinte anos depois, a Cabocla foi incluída nas comemorações.


Maria Quitéria:

A maior heroína nas lutas pela independência do Brasil, na Bahia. Maria, ao ficar sabendo das movimentações sobre as lutas da independência, conseguiu uma farda do exército e se alistou para combater as tropas portuguesas. Participou de diversas batalhas e foi consagrada solenemente na chegada do exército à Salvador.

Joana Angélica:

Abadessa no convento da Lapa, Joana tentou proteger os soldados brasileiros contra a invasão do convento, mas acabou sendo morta.



Brigadeiro Ignácio Luiz Madeira de Mello:

Vindo de Portugal, assumiu o governo das Armas por imposição portuguesa. Tomou posse utilizando a força bruta e dominando a cidade de Salvador. Fortaleceu a relação entre Portugal e Bahia. Lutou contra o exército brasileiro.


General Pedro Labatut:

Foi quem assumiu o exército brasileiro das mãos do coronel Joaquim Pires de Carvalho e começou a enfrentar o exército português. Um homem duro, Labatut conseguiu reestruturar as tropas e reerguer a vontade pela liberdade do Brasil.




Coronel José Joaquim de Lima e Silva:

Assumiu o comando geral do exército brasileiro depois da prisão do general Pedro Labatut. Fez uma intensa ofensiva às tropas portuguesas. Conseguiu derrubar Madeira de Mello e assumir de volta a cidade de Salvador, vencendo a guerra.







João das Botas

João das Botas era o apelido do tenente João Francisco de Oliveira (Itaparica, século XIX), que foi um militar brasileiro. No contexto das lutas da Guerra da Independência na província da Bahia, combateu as embarcações portuguesas nas águas da baía de Todos os Santos, nomeadamente no trecho entre a praia da Ponta da Areia e a barra do rio Paraguaçu.

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