sábado, 16 de janeiro de 2010

Álcool ou gasolina: uma escolha além do preço

Com o aumento do preço do álcool, quase todos os dias aparecem reportagens na imprensa apontando a vantagem econômica de abastecer com gasolina. O álcool tem autonomia em torno de 30% menor, por isso é preciso mais álcool para cumprir o mesmo percurso do que quando se usa gasolina. Financeiramente falando, o litro de álcool teria de ser pelo menos 30% mais barato que o da gasolina para valer a pena para o consumidor.

Os noticiários ensinam a calcular o custo/ benefício na hora de abastecer e até oferecem ferramentas virtuais para aqueles que querem praticidade. É o caso do portal G1 e o site do jornal O Estado de S. Paulo. A conta pode ser feita assim: divida o preço do álcool pelo da gasolina e multiplique o resultado por 100. Se for maior do que 70, vale mais abastecer com gasolina. Se for menor, com álcool.

Feitas as contas, entretanto, a diferença não é tão grande assim. Usamos como exemplo os preços dos combustíveis encontrados em postos próximos à Avenida Paulista, em São Paulo — o preço mais baixo da gasolina foi R$ 2,49, e o mais alto do álcool, R$ 1,99. Segundo relatório do Inmetro o consumo do carro mais vendido no ano de 2009 confirma a relação de consumo do motor: 7 km/L rodando a álcool, 10 km/L rodando a gasolina. Com esses valores, a cada 100 quilômetros rodados, o consumidor que abastecer com álcool gastará R$ 3,53 a mais do que se tivesse colocado gasolina no tanque.

“Parece um bom negócio, mas o preço não deveria ser o único fator de escolha do consumidor”, alerta Helio Mattar, diretor-presidente do Akatu. “O preço mais baixo da gasolina não reflete o custo do impacto ambiental de usar esse combustível.” As reportagens que recomendam a escolha da gasolina não levam em conta que a única semelhança entre ela e o álcool é que ambos são combustíveis.

Gasolina contribui para o aquecimento global

A gasolina é um combustível fóssil, derivada do petróleo, que emite dióxido de carbono (CO2) ao ser queimada nos motores e contribui enormemente para o aquecimento global. O etanol — o álcool combustível —, ao contrário, é um combustível renovável, feito de cana-de-açúcar. Embora o etanol também emita CO2 na sua queima, os canaviais absorvem esse gás no processo de fotossíntese. Por isso, do ponto de vista do aquecimento global, o álcool é considerado um combustível limpo. “Quando se usa o álcool, queima-se hoje o CO2 que foi absorvido por fotossíntese há alguns meses”, analisa Vanderlei Borsari, gerente da Divisão de Transporte Sustentável e Emissões Veiculares da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).

Segundo o Relatório de Qualidade do Ar, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), as emissões de poluentes dos motores tipo flex são iguais quando funcionam com álcool ou gasolina. Borsari explica que os níveis de monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos (HC) e óxidos de nitrogênio (NOx) – gases emitidos por esses dois combustíveis – são os mesmos. Portanto, a grande diferença de impacto ambiental da gasolina é contribuir para aumentar a emissão do CO2 — o mais importante gás de efeito estufa — em um planeta que luta para combater o aquecimento global e tentar evitar as mudanças climáticas que virão em conseqüência dele.

A Conferência do Clima em Copenhague, a COP-15, terminou há apenas um mês sob lamentos mundiais pelo fato de não se ter chegado a um acordo global com metas e força de lei para reduzir emissões de gases de efeito estufa. Contudo, se levarmos em conta apenas o preço dos combustíveis na hora de encher o tanque, deixamos escapar uma oportunidade de contribuir para combater as mudanças climáticas.

A conta chegará no futuro

Muitas vezes, os consumidores gostariam de fazer escolhas por produtos mais sustentáveis, mas não têm informações suficientes sobre os impactos ambientais e sociais de sua cadeia produtiva para tomar uma decisão. No caso do álcool e da gasolina, essa informação está disponível. “Todo produto tem algum tipo de impacto ambiental e social, mas o consumidor poderia optar por aqueles que têm mais impactos positivos e menos impactos negativos”, afirma Helio Mattar. “Muitas vezes a cadeia produtiva do álcool está envolvida em questões ambientais e sociais polêmicas, como o uso de trabalho em condição semelhante à de escravo. Mesmo assim, o álcool pode ser produzido de maneira ambientalmente e socialmente correta. A gasolina, entretanto, jamais deixará de ser um combustível fóssil.”

Marcelo Cardoso, coordenador executivo da ONG Vitae Civilis, chama a atenção para os custos – financeiros e socioambientais – dessas escolhas. “As chuvas e os desastres naturais que aconteceram nas últimas semanas não podem ser atribuídos às mudanças climáticas, mas eles nos alertam do que pode acontecer. Podemos fazer escolhas de curto prazo, mas quanto isso irá custar no futuro, financeiramente ou não?”

Fonte:Akatu








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